Basta ligar a televisão por apenas 10 minutos durante o seu almoço nos noticiários nacionais para se deparar com inúmeros casos de crimes violentos que chocam por suas atrocidades e que nos fazem questionar a integridade e moral humana.
Um ex-marido inconformado que ronda o prédio da ex-companheira e que invade a residência para matá-la a facadas. Um profissional bem sucedido que mata o próprio filho por discordar de sua opção sexual.
Ambos os casos, infelizmente, são bastante comuns e possuem relação. Posso ter certeza que ao se deparar com estas notícias, a maioria de nós tende a questionar a sanidade mental dos autores dos atos violentos. E este pensamento nos traz reflexões importantes.
Afinal de contas, qual a relação entre saúde mental e criminalidade? Qual a influência do estigma em todo este cenário? Vamos entender este assunto juntos a partir de agora. Boa leitura!
O conceito de saúde mental
Apesar do que muitos possam imaginar, a saúde mental não responde somente a ausência de transtornos ou enfermidades mentais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é caracterizada por um estado de bem estar no qual um indivíduo é capaz de apreciar a vida ao mesmo tempo em que administra suas próprias emoções.
Ou seja, um indivíduo com boa saúde mental consegue lidar bem com sentimentos positivos (alegria, amor, etc.), assim como com os sentimentos negativos (raiva, tristeza, etc.).
Assim sendo, uma pessoa saudável mentalmente sabe lidar com o mundo exterior de forma autônoma, sem perder o controle de suas emoções e ações e a noção de tempo e espaço.
Em contrapartida, a doença mental pode se caracterizar por perturbar algumas funções, como percepção, memória, aprendizagem, controle emocional e outras funções psicológicas.
Saúde mental e criminalidade
Casos como os mencionados no início do artigo geram dúvidas quanto a sanidade mental dos criminosos envolvidos. Todavia, apesar do fator mental permear os acontecimentos, não podemos justificá-los exclusivamente através de uma percepção alterada ou deturpada da realidade.
Afinal de contas, vincular saúde mental – ou a falta dela – à criminalidade seria uma resposta ou apenas mais um obstáculo para que nós possamos compreender a complexidade da diversidade dos indivíduos?
Diferentes pesquisas apontam que apenas uma pequena parcela dos crimes cometidos ao redor do mundo tem ligação direta com casos psiquiátricos. Ou seja, a maioria das pessoas com doença mental não são consideradas violentas, assim como a maior parte das pessoas violentas não possuem distúrbios psicopatológicos.
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No entanto, vemos que, historicamente, existe um estigma que associa a falta de saúde mental a violência e à criminalidade. Porém, outros questionamentos muito mais profundos deveriam ser levantados, tal como as culturas do machismo e da intolerância.
Quando damos destaque ao quadro mental de um autor violento em detrimento de outros fatores que levaram aos fatos, reforçamos o estigma de que o “louco” é necessariamente perigoso. E tal ideia, prejudica algo que já é comumente difícil a uma pessoa que sofre com quadros diversos de doenças psicológicas: a busca por ajuda!
A influência do preconceito na busca por tratamento
Uma boa parcela das pessoas com algum transtorno mental não procuram ajuda profissional por conta de causas como estigma, medo e preconceito. Afinal, por mais que a sociedade atual esteja mais consciente da existência e recorrência desses casos, os problemas de saúde mental ainda tem o poder de isolar indivíduos, gerando a incompreensão e o desrespeito.
Neste contexto, a empatia é vital para encurtar o caminho para o tratamento de doenças psiquiátricas. Indivíduos com transtornos mentais precisam de apoio dos familiares e amigos próximos com quem possam contar em momentos de crise.
Portanto, a associação direta e generalizada do distúrbio com um comportamento violento e criminoso, cria ainda mais barreiras para que as pessoas com doenças mentais estejam dispostas a buscar tratamento. A última coisa que um portador de transtorno mental precisa é de um rótulo!
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